03 LIÇÕES QUE APRENDEMOS COM A CRISE AMERICANA DE 2008 E PODEMOS APLICAR EM NOSSO VAREJO DE 2015.
Por Vinicius Furlanetto em www.viniciusfurlanetto.com.brOlhar para o passado e analisar o que aconteceu com os EUA em 2008 pode nos fazer entender o que está acontecendo conosco e como podemos usar as experiências deles a nosso favor.
Como um especialista em Gestão de Varejo, não poderia deixar de tecer meus comentários a respeito do momento que vivemos em nosso país. Não para fortalecer a ideia de crise, mas para fazer uma análise do que precisamos fazer para passar por ela da melhor forma possível sem colocar nossas empresas em risco.
É justamente sobre oportunidades e atitudes que gostaria de falar. Realizo a meses varias leituras a respeito deste tema e o que mais me chamou a atenção foi alguns comparativos que vi com relação a crise americana de 2008 e a nossa em 2015.
Como o meu forte não é prever o futuro, pois ele é inserto, o que sei, somente é o que está ligado a pesquisas de comportamento do consumidor, as quais venho seguidamente compartilhando com vocês aqui no blog.
Para quem não se recorda, uma quebradeira no sistema financeiro norte americano mergulhou os EUA em uma violenta recessão, com gravíssimos reflexos no varejo. As vendas caíram vertiginosamente no natal daquele ano, chegando a 11% de queda.
A resposta dos lojistas Americanos veio na forma de liquidações. Algumas lojas chegaram a oferecer produtos com 80% de descontos real após o Natal. Isso levou a aumentar o giro dos estoques, mas abalou a lucratividade das lojas.
Neste momento vemos que isso está acontecendo no Brasil. As liquidações estão em todos os lugares e ainda mais fortes agora, pois tivemos um inverno mais quente de toda a história e essas liquidações devem continuar até o final do ano.
Outras semelhanças entre os Estados Unidos de 2008 e o Brasil de 2015 estão ligadas aos itens que sofreram maior impacto de queda. Na época, pesquisas apontaram que 61% dos consumidores americanos passaram a gastar menos em eletrônicos e 64% cortaram gastos em roupas durante a recessão.
No Brasil não está sendo diferente, as vendas REAIS de móveis e eletrodomésticos caíram 10,9% entre janeiro e maio desse ano, enquanto as de vestuário e calçados recuaram 5%, segundo o IBGE.
Outras pesquisas indicaram que nada menos que 1/3 dos americanos, em função da crise de 2008, trocaram marcas tradicionais de vestuário por marcas próprias de lojas de departamento, isso criou um crescimento de varejo apelidado por lá como 'cheap chic' (barato e chique).
No Brasil, as lojas que estão destoando dos números negativos do segmento de moda são justamente marcas que podem ser consideradas 'cheap & chic', como Forever 21 e Renner, por exemplo.
Mas como o varejo americano enfrentou a crise de 2008?
Foram trabalhadas três frentes:
-redução do desperdício;
-elevação da eficiência;
-maior esforço de ativação dos clientes que as marcas já possuíam.
Isso significou corte de custos, diminuição de riscos, redução do tamanho das lojas, maiores investimentos em capital humano e nos canais de venda virtuais, assim como na melhoria da experiência de compra dos consumidores nas lojas.
Nos Estados Unidos de 2008, a palavra de ordem era: frugalidade (simplicidade, economia, moderação, contenção). Em outras palavras, a austeridade nas compras entrou na moda e as pessoas orgulhavam-se dos descontos e preços baixos que conseguiam obter. Mas ao mesmo tempo, muitos usavam parte do dinheiro economizado nas barganhas para presentar-se com indulgências, tais como produtos de beleza e brinquedinhos, como iPods e iPhones.
No Brasil de 2015, análises recentes divulgadas pela Dunnhumby, que é uma empresa especializada em fidelização de clientes, apontam claramente o surgimento de um segmento de consumidores brasileiros, que representa cerca de 25% da população brasileira, que para manter o padrão de vida conquistado, economizam em produtos básicos para custear a compra de pequenos luxos e indulgências.
Justamente como os americanos em 2008. E enganam-se os que pensam que o fenômeno é exclusivo da emergente Classe C. Ainda de acordo com o pessoal da Dunnhumby, as classes A e B andam surfando a mesma onda.
É evidente que todas essas convergências não são simples coincidências e merecem reflexão por parte da comunidade varejista brasileira. A crise de 2008, que só agora começa a ser deixada para trás pelos Estados Unidos, deixou marcas profundas no consumidor americano e foi o ponto de partida para importantes mudanças no varejo.
Com este cenário, certamente o varejo brasileiro conta com grandes desafios e muitas oportunidades para buscar o aumento da produtividade nos atuais pontos de venda.
Para nós, os bons tempos parecem ter ficado para trás. A hora é de reunir coragem para garantir uma travessia menos turbulenta em direção ao futuro e garantir a sobrevivências das nossas empresas. Mão na massa!